Frio !
Era a única palavra que se conhecia naquela tarde numa Inglaterra do séc. XVI.
Ao olhar pela janela, podiam ver-se as árvores repletas de neve e todo o chão pintado de um branco macio.
Cá dentro, a lareira acesa com o fogo quente e ardente, as achas a crepitar numa linda tarde de Inverno !
Sozinha, com o som do silêncio, tinha decidido cozinhar…
Enfiei-me na cozinha com as minhas pantufas fofas e o meu robe de pêlo rôxo e coloquei mãos à obra !
Enquanto estava nos meus afazeres oiço bater à porta…
Assustada, passaram-me mil e uma coisas pela cabeça. A minha casa localizava-se num local de difícil acesso; só quem o conhece é que conseguiria chegar até ele devido à densa e encantada Floresta Negra.
Pego na faca da cozinha e subo as escadas… rapida mas cautelosamente, eu espreito sem ser vista pela janela do meu quarto.
Qual não é o meu espanto quando vejo meia dúzia de cavalos brancos e, neles montados, vejo 5 homens feridos mas armados…
No 6º cavalo vejo uma Mulher, uma Guerreira linda e charmosa, de porte imponente e altivo, real e poderosa mas… ferida.
Voltei a descer as escadas, desloquei-me rapidamente até à porta e abri.
Olhei para ela em cima do cavalo e ela disse:
“Boa Tarde, sou a Rainha Elizabeth I ! Eu e os meus homens acabamos de chegar da Guerra com a Armada Espanhola e estamos demasiadamente feridos para continuar a nossa viagem de volta para o Castelo. Peço a sua guarida ! ”
Sem pestanejar e sem hesitar deixei escapar um “ Claro que sim, Sua Alteza, seja benvinda à minha humilde casa ! ” – curvando-me em vénia respeitosa enquanto entrava…
O perfume que o forno emana desperta a atenção da Rainha que, de imediato, lhe dirige o olhar direccionando-o logo em seguida a mim…
Baixo o olhos e balbucio:
“ Sua Alteza, decerto que o que estou a cozinhar será demasiado simples para o paladar requintado da minha Rainha… no entanto, será uma honra ter a companhia de Sua Alteza à minha mesa para degustar esta tão simples e insignificante Pavlova. “ – baixei o meu olhar…
Um sorriso…
Foi o que aquele rosto plácido e alvo, de expressão firme e determinada, esboçou: ” Será um prazer comer algo depois de tantos quilómetros de estrada… “
Em frente a uns olhos curiosos e ávidos rapidamente coloquei a mesa com o melhor que tinha em casa e servi-a.
O calor aconchegante da lareira, a mesa posta e a visão de algo tragável fizeram com que Elisabeth I ou Isabel I, conhecida como a Rainha Virgem da Era Dourada, se soltasse e me confiasse as suas memórias… Nem nunca pensei que uma Rainha tivesse a capacidade de ser tão conversadora com uma simples e insignificante súbdita do seu Reino.
Mas conversámos muito… Conversámos sobre o seu reino de Inglaterra e da Irlanda, sobre o seu pai, Henrique VIII, e sobre sua mãe, Ana Bolena… Também me falou de como tinha desposado o seu País, recusando sempre ter casado sem referir a causa dessa decisão, referiu-se também levemente a Robert Dudley, que eu sabia ser a sua paixão…
Ainda tocou no nome Maria Stuart, a sua perigosa rival e prima católica, nas batalhas, nas guerras que tinha liderado, na guerra de onde vinha contra a Armada Espanhola que conseguiu derrotar e também no seu mais dificil teste durante a guerra dos 9 anos com a Irlanda, um dos problemas que manchou o seu registo.
Nunca ninguém de tão alta casta me tinha contado tanto de sua vida e, no entanto, fê-lo uma das mais poderosas, bem sucedidas e populares Monarcas da história da Inglaterra.
Com esta Pavlova de Chocolate, participo na 8ª edição do “Convidei para jantar”, originalmente criado pela Ana do blog Anasberi e recebida desta vez pela encantadora Alice do blog Alice na Cozinha Maravilha, que escolheu o tema “Aristocracia” , um tema que me encheu totalmente as medidas.
Ingredientes:
- 100 gr. de chocolate preto
- 3 claras de ovo
- 175 gr. de açúcar em pó + 50 gr.
- 1 colher de chá de amido de milho (farinha Maizena, por ex.)
- 1 colher de chá de vinagre de vinho branco
- 1 colher de chá de essência de baunilha
- 200 gr. de natas
- 1 laranja (raspa e gomos)
Preparação:
Ligue o forno a 180º.
Derreter o chocolate em banho maria ou no microondas, mexê-lo bem para ficar macio e deixar arrefecer um pouco.
Bata as claras em castelo bem firme.
Acrescente gradualmente o açúcar em pó e continue a bater até se formar um merengue espesso e brilhante.
Misture a farinha de milho com o vinagre e a essência de baunilha, e junte essa mistura ao merengue incorporando bem.
Junte agora o chocolate derretido e envolva-o ligeiramente até conseguir um efeito marmoreado.
Coloque papel vegetal num tabuleiro de ir ao forno (eu fiz no próprio tabuleiro do forno), vire o merengue cuidadosamente e espalhe mas não muito.
Assim que colocar o merengue no forno, baixe a temperatura para 150º C.
Deixe cozer durante 1h15min e vá vigiando, a meio do tempo baixe um pouco mais a temperatura, para 130º C, caso veja que está muito forte.
No fim do tempo desligue o forno e deixe o merengue arrefecer dentro do mesmo.
Entretanto bata as natas com 50 gr. de açúcar em pó até formarem picos suaves. Envolva a raspa da laranja nas natas.
Quando o merengue já estiver já frio, retire-o do forno e coloque as natas no centro sem as alisar demasiado.
Enfeite com os gomos da laranja.
O texto acima teve também a participação especial de Filipa Fernandes, a filhota que é profunda admiradora de Elisabeth I, desde que assistiu ao filme ” Elisabeth – A Idade de Ouro “, com Cate Blanchett e que, não possuindo um blog de culinária, quis no entanto deixar o seu contributo. 🙂
Bom Apetite !